um pouco da minha história
Sou William de Paula, nascido e criado na periferia de Mauá, no ABC Paulista..
Comecei a me interessar por arte desde a primeira infância, mesmo sem compreender a complexidade sempre estava rabiscando nas folhas de sulfite e paredes.
A periferia de Mauá ainda é hostil, mas nos anos 90 era fora da curva, fui crescendo neste ambiente, morando em um cômodo só até a adolescência, nos fundos da casa dos meus avôs paternos e meus pais trabalhavam pra poder me dar exemplo e oferecer pra mim, um futuro melhor do que tiveram.
Começo a trabalhar na primeira fábrica em 2007 com 16 anos, serviço pesado, era uma fundição, durante esse tempo eu conciliava o trabalho com o ensino médio e o ensino técnico, de repente, as músicas de protesto que eu ouvia por influência de meus pais, agora faziam mais sentido. As contradições da violência que eu via explicitamente no bairro se juntavam com a exploração que eu começava a sentir na pele, começavam aí as revoltas e inquietações. A partir de então eu aprendo a tocar contrabaixo e entro em uma banda de Punk Rock chamada Dead Bush, depois começo a tocar na banda NOMX e então passo a me envolver com a contracultura e o movimento Punk do ABC por alguns anos.
Em 2014, entro em um curso superior de licenciatura em Artes que expande meus horizontes artísticos, porém, por dificuldades financeiras e a chegada do meu filho em 2017, mesmo estando no último ano do curso não consigo dar sequência pois o meu foco precisava se voltar para o sustento da criança incrível que chegava e mudava minha vida mais uma vez.
Em 2020, durante a pandemia e um desgoverno sem precedentes, minhas inquietações que ora estavam adormecidas voltam a me incomodar e então crio o projeto Willie77. Volto a escrever músicas e praticar as artes que havia deixado de lado, começo a estudar tatuagem e vou iniciando uma nova etapa resgatando práticas antigas.
Em 2022, passei por uma fase difícil onde eu me sentia totalmente perdido, acabo revisitando sentimentos e ideologias que me impactaram na adolescência. Nessa virada da vida de ponta cabeça, sinto que caí em pé. Neste processo volto a me engajar não só nas Artes como também na luta social.
Em 2023 eu e minha companheira Amanda temos a oportunidade de conhecer várias cidades da Bolívia, apesar de eu já ter tido a oportunidade de conhecer outros países da América Latina, essa viagem em específico me transforma, passo então a me interessar mais pelo internacionalismo. A história e a luta da américa latina passa a ser uma questão essencial para mim, quando estou em ação com o projeto, faço questão de levar um bucket que adquiri em uma comunidade de artesãos no nas bordas do deserto de sal de Uyuni. O chapéu preto com uma faixa de tecido aguayo, um símbolo da cultura dos povos originários andinos que resiste a milhares de anos com todas as opressões históricas.
Em Agosto de 2024 somos privilegiados com outra oportunidade, visitar os biomas do Cerrado e Pantanal e conhecer várias cidades, porém, começa nesta época um dos piores períodos de queimadas da história destes biomas(o monitoramento afirma que 99% foram são causados por ação humana) somado a maior seca do pantanal nos últimos 50 anos. O impacto que eu sinto por ter um contato real com ambientes riquíssimos de diversidade na fauna e flora durante um momento onde estavam sendo atacados e ameaçados, me transforma, isso faz com que a questão climática entre nas minhas abordagens artísticas como base e para abordar esse tema com maior profundidade, minhas artes visuais em grande parte passam a ser com reutilização de resíduos.
O projeto Willie77 está em constante metamorfose. É um projeto que vem pra organizar todos esses sentimentos e dores causadas por um sistema desigual. É onde eu exploro múltiplas linguagens artísticas como ferramentas para me comunicar, provocar, me expressar e propor visões de mundo com ações práticas na busca por uma sociedade onde nenhuma forma de vida seja explorada, marginalizada ou extinta.
Amanda comprando salteña de trabalhadora Cholita - Potosí, Bolívia - 2023
Conhecendo o Pantanal através do Rio Salobra - Miranda, Mato Grosso do Sul - 2024
Meu filho e eu na Escadaria Selarón - Rio de Janeiro, Brasil - 2024
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