Independência ou morte?

POLÍTICAPENSAMENTO CRÍTICOFILOSOFIAANARQUISMO

William de Paula

9/8/2025

A imagem e a pergunta retórica são auto-explicativas.

Para quem está voltando do final de semana que passou em Marte e vai iniciar mais uma semana dolorosa de trabalho mal remunerado, essa foto foi tirada ontem em uma manifestação de 7 de Setembro, em comemoração ao tal “””Dia da Independência””” entre várias aspas, que aconteceu na Av. Paulista, em São Paulo.

Esse ato foi organizado e bancado pelo pastor Silas Malafaia, dono da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

- Pausa que esse nome deu ânsia.

Voltei!

Então, como eu dizia, não vou entrar nas várias problemáticas dessa manifestação, vou focar em um ponto específico: as famigeradas bandeiras e seus simbolismos.

E por ordem de importância vem a bandeira gigante estadunidense e a pequenina bandeira brasileira como estão representadas nas fotos que estão circulando por todo lugar.

Esse fato, juntamente a outros que vou pontuar abaixo, deixa bem claro que nunca nos tornamos independentes. O senso comum sempre está na busca de alguém que seja o seu chefe, algum líder para seguir, algum patrão que dê as ordens, em geral, algum dono.

É uma herança colonial que perpetua até os dias atuais e que é sempre marcada por uma questão comum, uma clara relação de subserviência, uma relação de hierarquia onde a própria pessoa se coloca em posição de servidão ao seu mestre, independente do abuso que acontecer.

Trabalhadores precarizados abdicando de seus direitos entrando em discussão para defender seus patrões, ou pior, defendendo bilionários do outro lado do mundo, motoristas de aplicativo propagando ideias de mindset de coach, movimento gays com Bolsonaro (que nem preciso explicar), brasileiros que se dizem patriotas levantando uma bandeira colossal estadunidense, mulheres contra o feminismo, fiéis que se sujeitam e são coniventes aos absurdos de líderes religiosos que mercantilizam a fé e expandem suas riquezas e deixam tudo bem evidente através do estilo de vida e dos templos faraônicos que até possuem área VIP, eleitores que se colocam em condição de peões como se a vida fosse um jogo de xadrez enquanto seus políticos estão bem protegidos entre torres, bispos e cavalos e por aí vão as infinitas contradições.

O padrão é um só, pessoas cuja conduta perpetuam relações de exploração onde as próprias pessoas são as mais prejudicadas nessa relação.

Mas qual a solução?!

Existem algumas, mas posso citar uma que é a qual me identifico.

Principalmente neste tempo, adotar uma bandeira que não tenha relação com nenhuma forma de hierarquia e opressão, acredito ser a mais assertiva. Mas a questão não para por aí, afinal, bandeiras são apenas bandeiras, elas precisam vir acompanhadas de ideias e ações práticas.

A bandeira preta é um símbolo do anarquismo, ela representa uma oposição a todas as formas de autoridade tradicionais e hierarquias, além de ser usada também como símbolo de fome, miséria e a luta dos oprimidos, ela é a imagem do luto da classe trabalhadora.

Mas entenda, a questão contra a autoridade não é para que se formem pessoas simplesmente desobedientes, revoltadas e descontroladas, a questão é sempre levantar o questionamento sobre as ordens que recebemos e o pensamento crítico para entender se ali não existe uma relação de opressão e/ou exploração, é uma forma de organizar nossas dores e revoltas, canalizando esses sentimentos para algo que supere esses problemas.

Isso não significa que os médicos precisam ser extintos, que os sapateiros não devem ser respeitados, que a palavra da sua mãe não tem importância e que o seu professor não sabe de nada.

Esses exemplos de autoridade são outros assuntos que não podem ser confundidos com o que vamos abordar aqui.

Anarquia não tem nada a ver com isso, Anarquia é contra as autoridades tradicionais que estão em lugar de hierarquia, ou seja, que perpetuam essas relações de opressão que citei.

Anarquia é o mais puro exemplo de ordem e organização onde uma das bases deve ser a igualdade, para todos os seres que vivem, sem exceção, caso suas atitudes não apontam para isso, provavelmente estará apontando para uma liberdade individual que não resolve todos os problemas, muito pelo contrário, essas atitudes vão criar novos problemas e novas relações de opressão onde sempre vai ter alguém na parte de baixo e alguém na parte de cima. A liberdade precisa ser coletiva!

Agora me diz, é utopia conseguir um equilíbrio?!

Realmente chegamos em um ponto tão crítico onde nos tornamos tão egoístas e ruins ao ponto de não conseguirmos alcançar uma sociedade onde podemos viver bem com harmonia entre nós, os animais selvagens, os oceanos e as florestas?!

Espero que não, e espero provar isso em vida, e mais do que esperar, é importante também construir esse horizonte diariamente.

Deixar nosso futuro nas mãos dessa galera já provou que o futuro será sombrio ou talvez nem existirá.

E todas as pessoas possuem parte nisso, precisamos lutar por nossos direitos, estudar o que acontece historicamente no contexto geopolítico, precisamos agir na prática para estender e ampliar nossa solidariedade a toda e qualquer forma de vida cofre com a marginalização, com a opressão e com a extinção.

São compreensíveis as dificuldades, principalmente em um momento onde existe uma escala de trabalho 6x1, mas até isso é proposital, escalas como essas afastam cada vez mais as pessoas e sugam tanto o trabalhador que mal sobra tempo pra descansar dignamente, quem dirá se organizar e frequentar coletivos, movimentos e passeatas.

Mas precisamos criar estratégias e somar da forma que for possível no momento, algo precisa ser feito urgentemente porque escolher o nosso algoz a cada dois anos não resolveu o problema até hoje, e se não mudarmos agora, acredite, vai piorar.

Nos vemos por aí! 🏴

Tchau!

Mauá, dia 8 de Setembro de 2025, mais uma segunda-feira daquelas.